Onda de greves se alastra e desafia
governo Dilma
DE
BRASÍLIA
A
greve dos servidores federais ganhou ontem a adesão de policiais rodoviários e
ameaça se tornar a paralisação mais ampla do funcionalismo desde o começo do
governo Lula (2003-2010), desafiando a gestão da presidente Dilma
Rousseff.
Greve
da PF vai ao 3º dia com operação-padrão em aeroportos
Operação
da PRF causa lentidão em rodovias de sete Estados
Os
números oficiais e do movimento não batem. Nas contas sindicais, ao menos 27
órgãos federais foram diretamente afetados, entre greves, suspensão temporária
de trabalho ou operações-padrão.
As
paralisações já prejudicam o cotidiano da população. Ontem, pelo menos oito
estradas ficaram congestionadas por causa de uma fiscalização intensa de
veículos. Aeroportos e até a área da saúde, com a retenção de remédios
importados em depósitos, estão sendo afetados. Universidades federais estão
paradas há quase três meses.
Ontem,
em Brasília, grevistas tentaram subir a rampa do Palácio do Planalto, mas foram
contidos por policiais.
Até
agora, o governo negocia apenas com funcionários de universidades
federais.
VAIAS
O
ministro responsável por negociar com movimentos sociais, Gilberto Carvalho
(Secretária-Geral), foi vaiado e chamado de traidor em um congresso por
manifestantes da CUT, tradicional braço sindical do
petismo.
"Traidor,
traidor", ouviu. "A greve continua. Dilma a culpa é sua!". Carvalho discutiu aos
gritos com a plateia.
Ao
fim, o presidente da CUT, Vagner Freitas, comentou: "Se eu fosse presidente,
destituía o ministro."
"Houve
greves grandes, mas eram concentradas em um setor. Essa tende a se ampliar",
disse Artur Henrique, dirigente da CUT.
A
decisão do governo de punir grevistas com descontos e não conceder reajustes
acirrou os ânimos. Outra medida que desagradou servidores foi um decreto, de
julho, facilitando a troca de grevistas por funcionários estaduais e
municipais.
Para
os sindicatos, há mais de 300 mil funcionários parados entre os 573 mil
servidores. O Ministério do Planejamento diz que isso é irreal. "Se fosse tal
como é dito, teríamos o serviço totalmente comprometido, e não está. Há
pouquinha gente parada e muita fazendo barulho", disse o secretário de Relações
do Trabalho, Sérgio Mendonça.
Ele
refuta o status de pior greve dos últimos anos e lembra paralisações nos
governos Lula e FHC, mas o governo diz não saber quantos servidores estão
parados. O país "enfrentou momentos difíceis" com greves antes,
disse.
Também
repercutiu mal entre sindicalistas e setores do governo a afirmação do
secretário do Tesouro, Arno Agustin, dizendo que a greve acabaria no dia 31, com
o envio do Orçamento de 2013 para o Congresso, o que encerraria a possibilidade
de negociação salarial.
"Nós
entendemos que a crise [internacional] é grave. Mas, diante da crise, tem que
flexibilizar o superávit primário [economia para pagar juros da dívida] e
recuperar carreiras", disse Artur Henrique.