Devo
tirar a licença-maternidade de seis meses?
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Por Marco Tulio Zanini -
responde
Trabalho
há cinco anos em uma instituição financeira e estou grávida. Sei que tenho
direito a quatro meses de licença-maternidade, mas a empresa oferece dois meses
a mais para quem quiser, totalizando um semestre. Embora esse pareça ser um
ótimo benefício, descobri que cinco funcionárias que optaram por tirar os seis
meses foram demitidas cerca de um ano depois do fim da licença. Já as que
voltaram a trabalhar após quatro meses continuam no banco até hoje. Quem me
alertou sobre esse fato foi uma colega do RH da empresa, mas que não soube me
explicar a razão de isso ter acontecido, uma vez que não ocupa um cargo de
comando. Estava decidida a pedir os dois meses a mais, mas agora tenho medo e já
considero ficar apenas com os quatro que a lei obriga. Será que essa é a melhor
decisão?
Trader,
35 anos
Resposta:
A
pergunta de fundo é: a quem você deve lealdade? A Organização Mundial de Saúde e
o Ministério da Saúde alertam para a relação direta entre amamentação durante os
seis primeiros meses de vida e a saúde do bebê. Se é verdade que a empresa
demite quem opta por seis meses de licença, a questão que você deve tentar
responder é se você consegue ver o seu futuro ou se deseja se desenvolver
profissionalmente em uma organização como essa. Se você se engajaria em busca de
resultados para seus acionistas.
Há
questões mais complexas envolvidas: o combate à discriminação contra as mulheres
no ambiente de trabalho e o desafio da promoção da equidade de gêneros está no
centro das metas do milênio da ONU. Em relação à carreira, as mulheres sofrem
com pagamento inferior ao dos homens e menor acesso aos níveis de liderança. No
entanto, as mulheres são maioria nos cursos superiores e também são as que
apresentam melhor desempenho.
Esse
tipo de comportamento nas empresas, portanto, é um desperdício de capital humano
e uma grande fonte de injustiça. Uma das principais causas das barreiras que
muitas companhias colocam para as mulheres está relacionada à maternidade. Não é
possível falar em sustentabilidade, em nenhuma das suas formas, punindo a
geração da vida.
Empresas
bem-sucedidas e bastante lucrativas aprenderam que trabalhar a equidade de
gêneros aumenta as chances de retenção de talentos e a qualidade do pacto ético
entre os stakeholders. Além disso, pavimenta as bases para a meritocracia e
contribui para o engajamento dos empregados. O The Global Gender Gap Report
2012, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, demonstra que há uma relação
direta e clara entre equidade de gêneros e a competitividade da economia dos
países, o que significa competitividade das suas empresas.
A IBM,
por exemplo, reconhecendo isso, coloca como meta para os seus executivos estar
sempre no topo do ranking "melhor empresa para as mães trabalharem". Com isso,
atraem os melhores cérebros femininos das universidades onde atuam, escapando da
escassez de talentos. Veem uma relação direta entre essa ação e o desempenho do
conhecimento.
Mesmo
empresas em setores tradicionalmente masculinos estão se esforçando para mudar
esse quadro. Lucratividade se consegue com aumento da produtividade, do
desempenho do conhecimento, da capacidade de inovar, de engajar as pessoas e de
entregar valor de forma renovada.
No seu
lugar, desconfiaria da qualidade da liderança e da governança dessa empresa.
Como estamos em uma situação de maior oferta de empregos, vale se perguntar se
as mulheres não estariam melhor em outra companhia. Os bebês não devem pagar
essa conta.
Marco
Tulio Zanini é professor e coordenador do mestrado executivo em gestão
empresarial da Fundação Getulio Vargas e consultor da
Symballein
Esta
coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas
no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor
Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas
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Fonte:
Valor Econômico