Funcef
quer mais infraestrutura
Por Vinícius Pinheiro | De São
Paulo
Caser,
presidente do fundo de pensão dos funcionários da Caixa, nega influência do
governo e diz que seria "burro" se não olhasse investimentos em grandes
obras
Depois
de investir um total de R$ 5 bilhões em projetos de infraestrutura, alguns deles
polêmicos, a Funcef, fundação de previdência complementar dos funcionários da
Caixa Econômica Federal, está otimista com os primeiros resultados obtidos e tem
planos de ampliar os aportes no setor. "Vamos ganhar dinheiro com essas operações", afirmou o presidente
do fundo de pensão, Carlos Alberto Caser, em entrevista ao Valor.
Com um
patrimônio da ordem de R$ 47 bilhões, a Funcef e as demais fundações têm sido
presença constante entre os grupos interessados em assumir as grandes obras de
infraestrutura. "Vamos continuar investindo fortemente porque as carências estão
aí e nós precisamos de rentabilidade. São projetos de longo prazo e que casam
perfeitamente com o nosso perfil", diz.
Neste
fim de ano, uma série de investimentos da Funcef começam a ganhar visibilidade.
No aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a fundação integra o consórcio que
venceu o leilão de concessão promovido em fevereiro. Sob críticas de que
teria pago um preço elevado e de ter a seu lado uma
operadora de aeroportos com pouca expressão internacional, a sul-africana
Airports Company South Africa (ACSA), o consórcio assumiu a administração do
aeroporto no dia 14 de novembro - véspera de dois feriados em São Paulo.
"Tivemos o maior movimento desde a inauguração do aeroporto, e tudo transcorreu
sem problemas", afirma.
Para o
executivo, o investimento já se mostrava atrativo do ponto de vista econômico.
"Mas uma coisa é fazer as contas, outra é começar a operação. O fato de os
acionistas da Invepar serem fundos de pensão ligados a empresas estatais traz
uma responsabilidade muito grande", diz.
Além de
assumir a operação, o consórcio trabalha na construção do terceiro terminal do
aeroporto. Segundo Caser, as obras caminham dentro do cronograma para conclusão
antes da Copa de 2014. Para o primeiro semestre do ano que vem, está prevista a
entrega de um edifício-garagem com capacidade para mais de 2 mil
veículos.
Na
agenda de inaugurações, o presidente da Funcef viaja hoje para Três Lagoas (MS),
onde participa da inauguração da fábrica de celulose da Eldorado. A fundação é
uma das sócias da empresa, controlada pela J&F Participações, holding do
grupo JBS. "A fábrica entrará em operação no exato dia previsto, sem atrasos",
destaca.
Caser
também se mostra otimista com a construção da usina hidrelétrica Belo Monte,
outro projeto considerado polêmico. Em setembro, a fundação aumentou a aposta no
projeto e aprovou a compra da participação da Engevix. Com isso, elevou a fatia
no consórcio Norte Energia, responsável pela construção da usina, para 10%. "A
despeito de tudo o que se diz, é uma obra muito importante para o país." No fim
de novembro, 17% das obras da hidrelétrica estavam
prontas.
Assim
como no caso de Guarulhos, o investimento em Belo Monte também enfrentou
críticas. Caser avalia, porém, que as condições não só eram boas na época do
leilão, realizado em 2010, como melhoraram desde então. "A taxa de retorno, que
estava um pouco apertada, se mostrou excelente quando fomos aumentar a nossa
participação recentemente. Ou seja, trata-se de um negócio ainda melhor do que
já se revelava lá atrás", diz.
O
executivo da Funcef nega qualquer tipo de influência política na decisão de
investir em infraestrutura. Para ele, o desejo do governo de ter os grandes
investidores institucionais nesse tipo de projeto é natural, mas diz que isso
vai ao encontro dos interesses das fundações. "Enquanto fundo de pensão, eu
seria burro se não olhasse esses investimentos, que estão pipocando no país e
vão me dar uma rentabilidade que eu já não tenho no título público",
defende.
Caser
também mostra uma posição favorável ao governo na questão da renovação das
concessões na área de energia elétrica, embora afirme que a Funcef não possui
uma posição fechada sobre o tema. Para ele, a avaliação das empresas do setor na
bolsa levava em consideração concessões que não estavam contratadas. "Fala-se
muito em respeito aos contratos, mas também é preciso respeitar os
'não-contratos'", afirma.
A busca
por oportunidades de investimento se torna ainda mais importante em meio ao
processo de redução das metas atuariais das fundações a partir do ano que vem.
Por determinação do Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), o teto
da meta atuarial dos fundos de pensão - atualmente em 6% ao ano, descontada a
inflação - será reduzido gradualmente em 0,25 ponto percentual por ano, até
chegar a 4,5% ao ano em 2018.
Como a
Funcef possui hoje uma meta de 5,5% ao ano, a transição será feita de modo mais
tranquilo, de acordo com Caser. A fundação também já havia se preparado para os
tempos de juros baixos anos atrás, com a decisão de comprar títulos públicos de
prazo longo, com vencimento até 2045, que na época rendiam até 8% de juros
reais, praticamente o dobro das taxas atuais.
O ganho
com os papéis do governo, no entanto, não deve se traduzir em uma rentabilidade
expressiva neste ano, segundo o presidente da Funcef. Ele não antecipa os
resultados, mas diz que o fraco desempenho das aplicações em bolsa, que
respondem por aproximadamente um terço da carteira, deve comprometer o
desempenho como um todo. "Precisaríamos ter em outros investimentos uma
super-rentabilidade para compensar a bolsa, e isso não existe hoje",
afirma.
Fonte:
Valor Econômico