quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


HSBC recebe multa de US$ 1,92 bi da Justiça americana

Por Carrick Mollenkamp e Brett Wolf | Reuters

Gulliver, do HSBC: "Aceitamos a responsabilidade por erros do passado"

O HSBC concordou em pagar uma multa recorde de US$ 1,92 bilhão para por fim a uma investigação que vem sendo conduzida há vários anos por promotores americanos, que acusaram o maior banco da Europa de não cumprir regras destinadas a impedir a lavagem de dinheiro ilícito.
O HSBC Holdings admitiu uma falha nos controles e pediu desculpas ontem em um comunicado, anunciando que chegou a um acordo de adiamento de execução com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
O acordo foi firmado um dia depois que seu concorrente britânico Standard Chartered concordou em pagar US$ 327 milhões, como parte de um acerto com agências americanas fiscalizadoras, por violações a sanções - um pacto que se segue a um acordo de US$ 340 milhões firmado pelo banco com a autoridade reguladora do setor bancário de Nova York em agosto.
"Aceitamos a responsabilidade por nossos erros do passado. Já dissemos que lamentamos muito por eles e estamos fazendo isso novamente. O HSBC de hoje é essencialmente uma organização diferente daquela que cometeu esses erros", disse o diretor-presidente do HSBC, Stuart Gulliver. "Nos últimos dois anos, sob uma nova cúpula administrativa, adotamos medidas concretas para consertar o que estava errado e participar ativamente com as autoridades do governo no esclarecimento e resolução desses problemas."
O acordo de adiamento de execução, que deve ser detalhado por funcionários do Departamento de Justiça americano, poderá apresentar novas informações sobre a falha do HSBC no policiamento de transações ligadas ao México, disseram fontes a par do assunto.
Os detalhes desses negócios foram revelados no terceiro trimestre em uma ampla investigação feita pelo senado americano. A comissão do senado responsável por ela alegou que o HSBC não exerceu os controles elaborados para impedir a lavagem de dinheiro por traficantes de drogas, terroristas e esquemas de sonegação fiscal, ao atuar como financiador de clientes que despacharam dinheiro de países como México, Irã e Síria.
O banco não conseguiu monitorar adequadamente US$ 15 bilhões em grandes transações feitas com dinheiro vivo entre a metade de 2006 e a metade de 2009.
Ontem o HSBC disse que também espera chegar a um acordo com a Financial Services Authority (FSA), a autoridade reguladora do mercado financeiro do Reino Unido, que não quis fazer comentários sobre o caso.
O HSBC disse que aumentou os investimentos em sistemas contra a lavagem de dinheiro em cerca de nove vezes entre 2009 e 2011, desfez laços comerciais e cortou bonificações para os executivos da cúpula. Também citou a contratação, em janeiro, de Stuart Levey, um ex-funcionário graduado do Departamento do Tesouro dos EUA, para o cargo de diretor legal, como sinal de sua determinação em mudar.
Bancos europeus e americanos já têm agora acordos com as autoridades reguladoras americanas que somam US$ 5 bilhões nos últimos anos, para se livrarem de acusações de violação de sanções impostas pelos EUA e por não terem impedido transações ilícitas.
Entretanto, nenhum banco, ou executivo de banco, foi indiciado, uma vez que os promotores preferiram partir para os acordos de adiamento de execução - sob os quais as acusações criminais contra uma firma são abandonadas se ela concordar com condições como o pagamento de multas e a mudança de comportamento.
Esta foi a terceira vez em uma década em que o HSBC acabou penalizado por apresentar controles frouxos. Ordens das autoridades reguladoras para a melhoria da supervisão ocorreram em 2003 e novamente em 2010.
Sob um acordo de cinco anos com o Departamento de Justiça, o HSBC concordou em ter um monitor independente avaliando seu progresso na melhoria de seu sistema de conformidade.
O banco também disse que, como parte da reorganização de seus controles, lançou uma revisão global do procedimento "Conheça seus Clientes", que custará cerca de US$ 700 milhões em cinco anos. O procedimento tem como objetivo evitar que os bancos atuem inconscientemente como canais para dinheiro sujo.
Acordos como esse têm se tornado comuns. Naquele que era o maior deles até a semana passada, o ING Bank concordou em pagar US$ 619 milhões em junho para por um fim a alegações do governo dos EUA de que violou sanções contra países como Cuba e Irã.
Entre outros bancos que chegaram a acordos envolvendo violação de sanções estão o Crédit Suisse Group da Suíça, o Lloyds Banking Group e o Barclays do Reino Unido, e o ABN AMRO, o banco holandês comprado pelo Royal Bank of Scotland. Nos Estados Unidos, J.P. Morgan Chase, Wachovia Corp. e Citigroup foram citados por lapsos na prevenção de lavagem de dinheiro ou violação de sanções.
Fonte: Valor Econômico