quinta-feira, 8 de maio de 2014

08/05/2014 às 05h00

Receita de banco com tarifa avança acima da inflação

Por Carolina Mandl e Vinícius Pinheiro | De São Paulo
Valor Econômico

Em tempos em que o crédito cresce de forma moderada no país e a taxa básica de juros pressiona as margens financeiras, os quatro maiores bancos do país com ações listadas na bolsa ampliaram os ganhos com tarifas e serviços prestados neste começo de ano.
Juntos, Banco do Brasil (BB), Itaú Unibanco, Bradesco e Santander faturaram R$ 19,5 bilhões no primeiro trimestre com serviços, que incluem de tarifas com cartões e contas correntes a taxas de gestão de fundos de investimento.
A cifra representa um crescimento de 11,5% em relação ao mesmo período de 2013. É um aumento superior à inflação de 6,15% medida pelo IPCA nos últimos 12 meses até março, o que contribuiu para aumentar o lucro dos bancos nos três primeiros meses do ano.
Mais correntistas e clientes de cartão de crédito são fatores que os bancos citam como responsáveis pelo desempenho. No primeiro trimestre, a indústria de cartões movimentou R$ 213,73 bilhões em transações, com crescimento de 18,7% ante igual período do ano passado. O número considera as três maiores empresas do setor, mais de 99% do mercado. Explicitamente, as instituições não falam em aumento nos preços cobrados, mas dão pistas de que isso deve ter acontecido.
O Bradesco, que ganhou 760 mil novos correntistas ativos na sua base, diz que fez um "realinhamento" de tarifas. As receitas do banco com tarifas e prestação de serviços alcançou R$ 5,3 bilhões, com alta de 14,9% na comparação com igual período de 2013. Procurado pelo Valor, o banco não explicou o movimento.
Sem abrir números, o Itaú Unibanco afirma que o crescimento da base de clientes também colaborou para a receita de R$ 6,1 bilhões no primeiro trimestre, com aumento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado foi impulsionado pelos números da Credicard, que começaram a ser incorporados no trimestre passado. Mesmo sem esse efeito, porém, o crescimento seria de 13,8%.
O maior banco privado do país também diz que vendeu mais serviços de "maior valor agregado", o que colaborou para o faturamento mais polpudo. Só em serviços de conta corrente o Itaú faturou R$ 1,14 bilhão no primeiro trimestre deste ano, com alta de 16,2% em relação a igual período do ano passado.
Os números do Santander sofreram o impacto da venda da área de gestão de fundos e da mudança na contabilização de renovações de apólices de seguros. Sem esse efeito, o banco apresentou um crescimento de 11% com prestação de serviços e tarifas. Em serviços de conta corrente, o banco angariou R$ 459 milhões, com uma expansão de 10,6% sobre o primeiro trimestre do ano passado.
O BB também expandiu os ganhos, mas em ritmo menor que seus principais concorrentes. Ainda sob os efeitos de mudanças nos pacotes de tarifas feitas em 2013, a instituição apresentou uma alta de 6,6% no faturamento com serviços, com R$ 5,7 bilhões. O resultado ficou abaixo da projeção do banco para o ano, que é de um aumento de 9% a 12%.
Em abril do ano passado, o BB lançou uma ferramenta que permite aos clientes analisar seu histórico de consumo de tarifas. De acordo com o seu uso dos serviços, os correntistas podem aderir ao pacote que seja mais econômico a seu perfil.
Depois das mudanças feitas pela clientela, o serviço trouxe uma queda de 5,23% nas rendas com conta corrente em um ano, para R$ 959 milhões. "Num primeiro momento, há uma redução de tarifa. Mas esse cliente é muito fiel à proposta de transparência. É isso que vamos capturar no futuro", disse Ivan Monteiro, vice-presidente de finanças do BB. Por isso a expectativa do banco é que o faturamento com serviços alcance o intervalo das projeções até o fim do ano.
Com exceção do BB, o aumento nas receitas com tarifas dos bancos superou o crescimento das despesas administrativas e de pessoal no período. As instituições financeiras passam por um período de forte ajuste em seus gastos. No Bradesco e no Santander, por exemplo, as despesas tiveram expansão abaixo da inflação.
O saldo da carteira de financiamentos dos grandes bancos cresceu 12,7% no primeiro trimestre. O desempenho foi puxado pelo BB, que registrou um avanço de 17,6% no crédito.
O aumento da Selic até o momento não resultou em avanço nos spreads bancários, de acordo com os dados dos balanços. Os bancos atribuem o movimento a uma mudança no perfil dos empréstimos para linhas com margens e riscos menores. Além disso, os repasses para os juros das linhas de crédito não se dá de forma tão imediata.
Apesar de os spreads se manterem, a redução da inadimplência e das provisões para calotes aumentou o resultado dos bancos privados nas operações de crédito, também contribuindo para a expansão do lucro.
Somados, esses fatores levaram o grupo dos quatro maiores bancos listados do país a lucrar R$ 11,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, com crescimento de 15,7% na comparação com igual período do ano passado. Apenas o Santander mostrou um lucro menor nesse intervalo. (Colaborou Felipe Marques)




Federação dos Bancários de SP e MS
Lucro do BB cresce 4,7%, para R$ 2,7 bi
Provisão para calotes sobe 28,7% no trimestre, mas inadimplência cai, a exemplo do que ocorreu em outros bancos
Carteira de crédito sobe 18%; aumento de despesas com provisão para calotes impede avanço maior do lucro
MARIANA BARBOS
AANDERSON FIGODE
FOLHA DE S.PAULO
Maior banco brasileiro, o Banco do Brasil lucrou R$ 2,678 bilhões no 1º trimestre, 4,7% a mais que no mesmo período do ano passado.
O lucro líquido ajustado (que exclui reservas legais e contingências) caiu 9,3%, para R$ 2,436 bilhões, abaixo das estimativas do mercado.
O resultado reflete o aumento das provisões para calotes --28,7% na comparação anual-- e o aumento das despesas administrativas, que subiram 9,7% (acima da meta de 5% a 8% de alta estabelecida pelo banco para o ano), alcançando R$ 7,75 bilhões no trimestre.
O BB também viu a sua receita com tarifas de conta-corrente recuar 5,2% no trimestre, na comparação com igual período de 2013. Considerando todos os segmentos, a renda com tarifas cresceu 6,6% no mesmo período --abaixo da meta de expansão projetada pelo banco para o ano, entre 9% e 12%.
Segundo o diretor de relação com investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro, a queda nas receitas com tarifas de conta-corrente reflete a nova política de pacotes adotada pelo banco, colocando apenas os padronizados por norma do Banco Central à disposição.
"Os pacotes padronizados dão mais transparência ao cliente e acreditamos que, no médio e no longo prazo, isso vai gerar retorno para o banco, pois levará a uma maior fidelização."
CRÉDITO
O banco apresentou expansão de 18% nos financiamentos na comparação anual, totalizando R$ 699,3 bilhões ao final de março --21,1% do mercado de crédito nacional--, à frente de Itaú Unibanco (R$ 508,246 bilhões), Bradesco (R$ 432,297 bilhões) e Santander (R$ 275,245 bilhões).
De acordo com Monteiro, o crescimento da carteira foi puxado pelo aumento no crédito agrícola e dos empréstimos imobiliários (88% em 12 meses).
Na visão de André Riva, analista do GBM (Grupo Bursátil Mexicano), o BB "vem sofrendo com a queda no nível do spread', que passou para 4,1% no primeiro trimestre, e a desaceleração do nível de concessão de crédito". O "spread" é a diferença entre a taxa de juros que os bancos pagam pelos recursos e a que cobram de seus clientes nas operações de crédito.
CALOTES
A inadimplência acima de 90 dias do banco encerrou março em 1,97%, queda de 0,3 ponto percentual sobre a taxa apurada no primeiro trimestre do ano passado e ligeiramente menor que o 1,98% de dezembro.
A redução no nível de calotes também foi registrada pelos maiores bancos privados no país nos três primeiros meses do ano.
Apesar da inadimplência menor, o BB elevou as despesas com provisões para calote para R$ 4,19 bilhões --aumento de 27,8%.
Com provisões menores para calotes, Bradesco e Itaú tiveram altas mais expressivas de lucro no trimestre. Para Monteiro, as provisões e a taxa de inadimplência devem se manter estáveis ou cair nos próximos trimestres.
Na avaliação de Riva, o aumento da provisão não se deu em razão de perspectiva de mais calotes. "O movimento, na minha visão, está mais ligado ao nível de crescimento dos financiamentos nos últimos trimestres", afirmou.




Federação dos Bancários de SP e MS