segunda-feira, 27 de junho de 2016

Campinas: Justiça condena Itaú a pagar R$ 2,2 milhões de indenização à bancária aposentada por invalidez
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24/06/2016
A 2ª Vara do Trabalho de Campinas condenou o Itaú, recentemente, a pagar indenização de R$ 2,2 milhões por danos morais e materiais a uma bancária aposentada por invalidez aos 36 anos. E mais: o Itaú terá que custear todas as despesas médicas do tratamento de forma vitalícia. A ação contra o Itaú, ingressada pelo Sindicato dos Bancários de Campinas e Região, tramitou durante 10 anos e agora não cabe mais recursos.

Para a Justiça do Trabalho, a perda da capacidade laborativa, em decorrência de uma tenossinovite, teve nexo de causalidade com a atividade exercida pela bancária. De acordo com a sentença, o Itaú teve culpa no agravamento da doença, até o ponto de resultar em invalidez total para o trabalho. Na opinião da bancária agora indenizada, que pediu anonimato, a decisão da Justiça do Trabalho representa “uma vitória, sem dúvida. Mas continua sendo algo difícil de aceitar. As minhas limitações diárias, a dor que sinto nos braços, não me deixam esquecer. Tive que aprender a viver respeitando meus limites, que não são poucos”. A bancária iniciou sua carreira no Unibanco, na função de auxiliar, em 1987. Em 1988 foi promovida à caixa e chegou ao cargo de assistente de gerência de contas em 1993. “Eu tinha planos profissionais, tinha sonhos que foram encerrados aos 36 anos, com a minha aposentadoria”.

Trajetória da doença

A bancária começou a sentir dores nos braços em 1997, já com 10 anos de Banco. Porém, mesmo com a dificuldade, deu sequência às funções normalmente até que, no limite da dor, veio o primeiro afastamento, em 1998. De 1998 até 2005, foram inúmeros tratamentos médicos, remédios para a dor e tentativa frustrada de retornar ao trabalho. Hoje aos 46 anos, a bancária ainda sofre com a convivência de suas limitações. E se emociona ao lembrar que não conseguiu sequer amamentar o filho sem a ajuda do marido. “Sinto até hoje, especialmente quando meu filho me pede algo que não posso fazer como, por exemplo, jogar videogame com ele”. A bancária mantém acompanhamento psiquiátrico e faz hidroterapia duas vezes por semana para amenizar as dores.

Pressão adoece bancário

O drama da bancária do Itaú não é isolado, único. “As chamadas Lesões por Esforços Repetitivos (LER) atingem toda a categoria, principalmente em função da cobrança por metas abusivas, inatingíveis, e até da falta de estrutura para o desempenho das funções exigidas. Resultado: bancário adoecido, bancário lesionado, bancário condenado à invalidez. A decisão da Justiça representa uma conquista. Porém, é preciso melhores condições de trabalho. É possível produzir sem adoecer o trabalhador bancário. A mobilização da categoria, a cada Campanha Nacional, busca construir um ambiente de trabalho mais saudável”, destaca o vice-presidente do Sindicato, Mauri Sérgio.


Fonte: Sindicato dos Bancários de Campinas e Região


Texto disponível no site: www.feeb-spms.org.br

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Confira as principais reivindicações aprovadas pelos trabalhadores do BB e da CEF
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20/06/2016


Após três dias de discussões, os trabalhadores do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal aprovaram no último domingo (19), as reivindicações específicas para a Campanha Nacional 2016. O 27º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil – CNFBB contou com 323 delegados e delegadas (212 homens e 111 mulheres); Já no CONECEF foram 352, 184 homens e 168 mulheres.

A Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul (FEEB-SP/MS) participou do congresso do BB com 28 delegados e delegadas: 16 homens e 12 mulheres e no da CEF, com 10 mulheres e 14 homens, totalizando 52 delegados, que defenderam as propostas apresentadas pela entidade, extraídas do encontro interestadual dos dois bancos, realizados dia 21 de maio, em Campinas.

“A participação da Federação foi muito importante, pois ajudamos no processo de construção da pauta de reivindicações nos dois congressos por meio das propostas apresentadas, dos debates realizados e das defesas que os delegados fizeram destas propostas”, disse Jeferson Boava, vice-presidente da FEEB-SP/MS.

Boava também reafirmou sua crença na mobilização e resistência dos trabalhadores bancários do setor público. “nós já sabemos as dificuldades que vamos enfrentar com essa ‘sopa de PLs’ que querem retirar nossos direitos. Mas, também já mostramos nossa força de resistência. Tenho certeza que aqui traçaremos qual caminho seguiremos para garantir a manutenção e os avanços nas conquistas dos direitos dos trabalhadores”, declarou durante seu discurso na abertura conjunta dos congressos.

Principais reivindicações

Banco do Brasil

Remuneração e condições de trabalho: Aumento real; Plano de Carreira e Remuneração (PCR), sendo o piso igual ao salário mínimo do Dieese e interstício na tabela de antiguidade de 6%, com mérito maior e para todos; fim do assédio moral e das metas abusivas; e respeito da jornada de trabalho.

Cassi: Fortalecer o modelo assistencial de Estratégia de Saúde da Família (ESF);ampliar cobertura do deficit pelo BB; manter princípio de solidariedade; e inclusão de funcionários oriundos de Bancos incorporados.

Previ: Fim da resolução 26 (investir superávit em melhorias dos benefícios); fim do voto de Minerva no Conselho Deliberativo; e implantação de teto para os benefícios.

Economus: Reivindicação de participação na gestão por meio da diretoria e discussão sobre o equacionamento do plano de benefício saldado.
Sistema financeiro nacional: Resgate do papel social do BB; mobilização por mudanças no PL 4918, o chamado Estatuto das Estatais (veja matéria, clique); e regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, que trata do Sistema Financeiro Nacional.

Caixa Federal

Principais reivindicações: Luta em defesa da Caixa 100% pública; mobilização contra o processo de reestruturação (iniciado em abril último) e contra o Programa de Gestão por Desempenho (GDP); e combate ao assédio moral e/ou sexual. A pauta contempla também reivindicações sobre saúde, Saúde Caixa, Funcef, Prevhab, aposentadoria, segurança, contratação, Sipon, jornada, isonomia e carreira.

Texto disponível no site: www.feeb-spms.org.br

terça-feira, 14 de junho de 2016

Novo presidente do BC quer inflação baixa e parcimônia ao intervir no câmbio
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14/06/2016



O novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta segunda-feira (13) que seu objetivo será perseguir uma inflação baixa e estável para garantir a recuperação da economia. Afirmou, no entanto, que a eficácia da política monetária dependerá da aprovação das medidas na área fiscal propostas pelo governo.

Durante discurso na cerimônia de transmissão do cargo de presidente do BC, Ilan afirmou que a instituição usará com parcimônia os instrumentos cambiais dos quais dispõem, podendo inclusive reduzi-los quando houver condições.

"Sem ferir o regime de câmbio flutuante, o Banco Central poderá utilizar com parcimônia as ferramentas cambiais de que dispõe. Nesse sentido, poderá reduzir sua exposição cambial em determinado instrumento em ritmo compatível com o normal funcionamento do mercado, quando e se estiverem presentes as adequadas condições", afirmou.

Ilan disse ainda considerar que há praticamente consenso de que é preciso substituir os efeitos ainda presentes da chamada "nova matriz econômica", referência à política da presidente afastada Dilma Rousseff até 2014, pelo "velho e bom tripé macroeconômico" formado por responsabilidade fiscal, controle da inflação e regime de câmbio flutuante.

A cerimônia contou com a presença de vários ex-presidentes e ex-diretores do BC, entre eles, Armínio Fraga, Gustavo Franco, Persio Arida, Pedro Malan e Carlos Langoni.

Também estiveram presentes representantes do setor bancário, como Murilo Portugal (Febraban), Lázaro Brandão (Bradesco), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) e Pedro Moreira Salles (Itaú-Unibanco).

NOVOS DIRETORES

Ilan Goldfajn também disse que pretende trocar quatro diretores da instituição e ampliar o número de integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão responsável pelas decisões sobre a taxa básica de juros, de oito para nove pessoas.

Os novos indicados são Carlos Viana de Carvalho, para a diretoria de Política Econômica, Reinaldo Le Grazie, para Política Monetária, Tiago Couto Berriel, para Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e Isaac Sidney Menezes Ferreira, atual procurador do BC, para a diretoria de Relacionamento Institucional e Cidadania.

Deixam o BC os atuais diretores Altamir Lopes, Tony Volpon e Aldo Mendes.

O servidor de carreira Luiz Edson Feltrim aceitou continuar como diretor de Administração, mas não irá mais acumular a área de Relacionamento Institucional e Cidadania.

Também continuam no BC os servidores Anthero de Moraes Meirelles, diretor de Fiscalização, e Sidnei Corrêa Marques, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural.

O diretor de Regulação, Otavio Ribeiro Damaso, também continuará no BC.

Os nomes dos quatro indicados ainda têm de ser enviados ao Congresso pelo presidente interino Michel Temer e precisam ser aprovados pelo Senado.

Com as mudanças, o Copom volta a ter nove integrantes, o presidente do BC mais oito diretores.

TOMBINI

Alexandre Tombini, que deixa o BC e vai para o FMI (Fundo Monetário Internacional), fez um discurso no qual criticou várias vezes a política fiscal do governo Dilma.

Segundo ele, a política fiscal, desde 2012, levou a um aumento significativo do prêmio de risco do país, que se transmitiu negativamente aos preços de nossos ativos, em particular na taxa de câmbio.

"Nesse período, na falta de uma política fiscal consistente no país, coube quase que exclusivamente à política monetária o custo do enfrentamento de fortes pressões inflacionárias", afirmou Tombini.

Disse ainda que "o crucial e imprescindível ajuste fiscal não se desenvolveu, até recentemente, na direção e na intensidade necessárias" e defendeu a aprovação de medidas que possam garantir uma trajetória de resultados primários que leve à estabilização e à posterior redução do endividamento público.


Fonte: Folha.com
Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Bancos estudam acabar com rotativo do cartão de crédito
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13/06/2016



A Abecs (associação das empresas de cartões) deve apresentar nos próximos meses uma proposta para diminuir gradativamente o uso do rotativo do cartão de crédito e até extingui-lo. A linha é utilizada quando o cliente não paga o total da fatura mensal. (Eduardo Cucolo)

A avaliação é que a modalidade traz mais perdas do que ganhos para as empresas. Além de despesas e prejuízos com a inadimplência, o produto prejudica a imagem dos bancos e o relacionamento com o cliente.

A má fama do cartão está na taxa de juros do rotativo, de 450% ao ano, em média, o que leva a uma alta inadimplência, de 36%, segundo a Abecs. Já considerando todas as linhas de crédito para pessoa física, a taxa é de 4,3%, segundo o Banco Central.

O crédito rotativo responde por 20% dos recursos movimentados pelos usuários de cartões, diz a associação.
Outra opção para quem não pode pagar toda a fatura, que responde por menos de 10% das concessões, é definir com a administradora a quantidade de parcelas em que o débito será quitado, com juros menores do que no rotativo, em torno de 150% ao ano. O patamar é próximo de uma linha de crédito pessoal, mas bem superior ao crédito consignado, por exemplo.

Marcelo Noronha, presidente da Abecs, afirma que entre as iniciativas em estudo está limitar o prazo em que o cliente pode ficar no rotativo e, a partir daí, migrá-lo para uma linha de crédito com juro menor.

A solução pode ser definitiva ou vigorar por um período de transição, depois do qual o produto acabaria.

ESTRATÉGIA 
O mais provável é que o setor proponha três ou quatro opções que serão adotadas pelos bancos de acordo com a estratégia de cada um. "Você poderia eliminar o rotativo. É uma possibilidade em discussão", diz Noronha.

As mudanças não dependeriam do governo, embora devam passar pelo crivo do Banco Central. "Se for num caminho que atenda ao desejo da sociedade e do setor, então talvez isso seja suficiente para virar essa página."

Na prática, uma parte das propostas da Abecs já tem sido adotada pelos bancos, que, com o agravamento da crise e do desemprego, temem perder clientes.
O vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Raul Moreira, diz que a ordem é não deixar ninguém pendurado por mais de 30 dias. Após 15 dias, o BB passa a oferecer opções com juros mais baratos.

Segundo a instituição, cerca de 20% dos clientes nessa linha são pessoas de alta renda. Outros 60% têm linhas com taxas menores à disposição, como o consignado, mas desconhecem a opção ou resistem em fazer a troca.

Os que realmente não têm outra opção são cerca de 20%. "Não adianta ter lei se o cliente tiver uma percepção errada sobre o produto", afirma Moreira.
Marcos Magalhães, diretor da área de cartões do Itaú Unibanco, afirma que o banco sempre incentivou o uso do parcelado com juros, que até supera as suas operações com rotativo.

"Como estamos vivendo uma época de crise, a gente está sendo ainda mais incisivo com os clientes", diz. "A gente indica outras linhas mais baratas. A receptividade é altíssima."

Rodrigo Cury, superintendente executivo de cartões do Santander, afirma que o banco incentiva os clientes a trocarem essas dívidas por produtos da linha "crédito sob controle".

"O cheque especial e o rotativo são créditos emergenciais, para quando há um problema de dias ou de uma semana. Não deve financiar o dia a dia", completa.

POR DENTRO DO CARTÃO DE CRÉDITO

O que é o rotativo do cartão? 

É uma linha de crédito pré-aprovada, contratada pelo cliente quando ele paga um valor abaixo do total devido no cartão de crédito. Tem taxa de juro de 450% ao ano, a mais cara entre todas as linhas

Por que esse crédito é tão caro? 

Quanto mais fácil pegar o empréstimo, mais caro ele vai custar. Isso porque a facilidade de contratação do crédito aumenta a chance de o cliente não conseguir pagar a dívida. Como o calote é um custo para o banco, ele cobra mais para compensar esse risco

O que é o parcelamento de fatura? 

Quando o consumidor percebe que não vai conseguir pagar o valor integral da fatura, ele pode optar por parcelar o valor devido. Nessa linha, os juros médios são de 150% ao ano

Parcelar a fatura é vantajoso? 

A linha é mais barata que as taxas de juros do rotativo, mas ainda é um crédito caro. Se o cliente está endividado no cartão, o melhor é negociar com o banco um empréstimo pessoal mais barato. Algumas opções são o crédito consignado ou o empréstimo com bem como garantia (como o imóvel ou o carro)

Por que os bancos querem acabar com o rotativo?

Eles alegam que, além do custo para o banco com a inadimplência, as altas taxas de juros sujam a imagem da instituição financeira.

Na prática, a tendência é que o cliente que tenha aumentado muito sua dívida no cartão nunca volte a usar o produto. A instituição também corre o risco de perder o correntista para um concorrente após a experiência ruim.

Fonte: Folha.com
Gilberto Occhi: ‘Privatização da Caixa está fora das discussões’
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13/06/2016



Gilberto Occhi assumiu a presidência da Caixa disposto a botar pingos nos “is” em relação ao futuro da instituição. “Muito se fala que se vai privatizar a Caixa. Está fora de qualquer escopo. Não tem esse trabalho, esse discurso, essa diretriz”, frisa. Nem mesmo uma abertura de capital à participação privada – o que daria à Caixa estrutura societária semelhante à do Banco do Brasil e da Petrobrás – está em discussão, apesar dos projetos de parceria privada em três segmentos: loterias, seguridade e cartões.

Occhi recebeu o Estado na sede da instituição, na quinta-feira, para a primeira entrevista exclusiva desde a posse, no dia 1º. Ele fala também da desaceleração do crédito nos últimos anos e do foco do banco nas em linhas tradicionais. A seguir, os principais trechos.


Quais os planos da Caixa para seguros, loterias e cartões?

Não temos intenção de privatizar essas áreas. Vamos continuar com o controle, mas trazer parceiros que possam dar retorno maior sobre as operações e alavancar esses negócios. Queremos fortalecer negócios e melhorar ativos. Muito se fala que se vai privatizar a Caixa. Está fora de qualquer escopo. Não tem esse trabalho, esse discurso, essa diretriz. Nem do governo nem da Caixa. As discussões do IPO da Caixa Seguridade e a renovação do contrato com os franceses (CNP Assurances) estão na agenda com a equipe econômica. Para entrar ainda este ano, depende do mercado. Nas loterias, o modelo é uma joint venture. O preço dos ativos está oscilando muito, o que dificulta qualquer negócio. Já a área de cartões é importante e será prioritária para a Caixa. Temos muitas oportunidades. É principalmente rentável, dentro do nosso objetivo de sustentabilidade e eficiência. Estamos fazendo esse trabalho e, se resolvermos pela abertura de capital ou outra parceria, vamos fazer.

Depois dessas três etapas, o caminho seria que a própria Caixa abrisse o capital até o fim do governo do presidente Temer?

Não acho que tenhamos espaço para essa discussão.

A presidente afastada Dilma Rousseff chegou a prometer, no fim de 2014, que o banco teria ações em Bolsa.

Eu estava no governo. Não era essa a intenção. Talvez tenha ocorrido um erro de comunicação. Por isso, corrigiram para a Caixa Seguridade, área que tinha condição de ser feita, já tínhamos estudo.

Qual o impedimento para a abertura do capital da Caixa?

Nunca avaliamos isso. A Caixa teve um período muito difícil, há uns 15 anos, e teve apoio do governo. O banco é importante dentro das políticas de governo. Se fosse tão simples assim, já teria sido feito. A Caixa tem característica que a diferencia dos outros bancos, que é a carteira de governo, a prestação de serviços. É diferente de uma abertura de capital, que visa mais à rentabilidade do que ao atendimento social.

Com capital aberto, ficaria mais difícil usar a Caixa como instrumento de política pública?

Acabaria tendo outras funções, eventualmente teria de respeitar a decisão dos outros acionistas e não teria a possibilidade de atender a uma ação de governo. Todas as ações de governo são rentáveis. Boa parte da nossa rentabilidade vem da prestação de serviços para o governo, de ser um agente de repasse de emendas parlamentares. Tudo isso é rentável, é precificado. Agora, é muito importante saber que temos uma estrutura diferente da de outros bancos. Somos talvez hoje a primeira, ou com certeza a segunda empresa técnica do País. Só tínhamos menos engenheiros que a Petrobrás. Que banco teria uma estrutura dessas para atender a essa demanda governamental? Essa estrutura é um grande apoio às políticas públicas do governo.

Mas os analistas de mercado criticam exatamente esse ponto. Citam, por exemplo, o Minha Casa Melhor, rejeitado pela própria área técnica da Caixa.

O fato de a Caixa ter feito não significa que teve prejuízo. Aplicamos os R$ 5 bilhões (de capitalização que o banco recebeu por tocar o programa) em tesouraria, remunerados pela Selic. O programa foi importante para a sociedade. Se for perguntar à família que teve o crédito, a que pagou e a que não pagou, foi fundamental. É uma questão de dignidade. No final, o governo disse que essa é uma situação que, ou teria de pagar tudo, dar os eletrodomésticos, ou suspender o programa por conta da situação econômico e financeira do Tesouro. Suspendeu.

O banco é obrigado a tocar qualquer programa de governo?

No passado, era assim. O governo mandava: faz aí. E, depois, tinha de aportar recursos no banco para ele não quebrar. Mudamos muito isso. É claro que todas as vezes que somos chamados para uma negociação com o governo levamos nossa necessidade. Tem discussão de tarifas, de repasses do que é contratado. Essa questão mudou na Caixa. Não dá para falar que um programa é ruim ou bom, mas está nivelado. Sabemos o custo de cada um. Indo para o mercado, temos uma decisão de onde atuar. Mas, quando somos chamados pelo governo para lançar um novo programa, participamos, discutimos a remuneração para ser o agente do programa. Botamos na mesa. O governo topou? Tem de pagar.

Qual a rentabilidade do Minha Casa para a Caixa, por exemplo?

Não sei. Mas precisamos separar a faixa 1 (onde há mais subsídios). As faixas 2 e 3 são condições de mercado. A inadimplência da faixa 1 não entra na nossa conta. A inadimplência das faixas 2 e 3 está dentro dos parâmetros de mercado, entre 2% e 3%.

O governo Temer pensa em uma eventual fusão da Caixa e do Banco do Brasil?

Nunca teve orientação nesse sentido. Não sei de onde saiu essa informação e qual o motivo. Posso afirmar que, em nenhum momento, nem o presidente nem o ministro Henrique Meirelles trataram desse assunto comigo.

As indicações políticas para cargos na Caixa comprometem o desempenho do banco?

O País também é voltado para a questão política. Votamos em todos os políticos. Você acha que sou uma indicação técnica ou política? Sou um funcionário com 36 anos na empresa, passei por vários lugares e tem a coincidência de ter uma relação política. Quem é que não tem relação política? O que se exige do profissional é que esteja alinhado com a política da instituição. Tenho certeza que na gestão do presidente Temer e do ministro Meirelles vamos procurar alinhar principalmente a parte técnica, da competência, e, se houver um viés político, não é demérito para ninguém. Vamos ter de conviver com essa situação, mas sempre com o objetivo de que haja profissionais técnicos, independentemente da sua filiação, vinculação e tudo mais. O grande interesse, mesmo da classe política, é que se coloque um profissional que possa desempenhar melhor seu papel na instituição.

O senhor repete que a Caixa não precisa de capitalização. E se as operações das três áreas não saírem, precisará em 2017?

Não vamos precisar de capitalização em 2016 e estamos trabalhando para não precisar em 2017. Temos uma série de ações, várias alternativas para não precisar. Depende da economia, do crédito, do retorno de dividendos ao Tesouro, das ações que estamos fazendo. Estamos construindo algumas alternativas para 2017 não precisar de capitalização, mas precisamos fechar com a equipe econômica. Precisamos desmistificar que aporte de capital é porque está quebrando. Já aconteceu no Banco do Brasil e na Caixa, que foram socorridos pelo governo federal. Aquele discurso não tem mais. Nosso trabalho hoje é um papel de banco público, de repassar uma parte dos dividendos e a outra integralizar para que o banco possa crescer.

Há esqueletos hoje na Caixa?

Com a governança de hoje, conselho diretor, conselho de administração, órgãos de controle, não há esqueletos. A direção e os funcionários têm o compromisso de zelar pela empresa e por seus nomes. Estamos trabalhando para melhorar a eficiência. Temos de reconhecer que a Caixa tem participação pública muito importante para a sociedade brasileira.

Os gastos de mais de R$ 100 milhões ao ano com patrocínio a clubes de futebol vão continuar?

Os estudos apontam que o retorno tem sido muito importante para a Caixa e devemos continuar com a política. Pedi uma avaliação para discutir com a área de marketing sobre como melhorar a eficiência desse investimento. Fico imaginando que, se sairmos, todo mundo vai sentir falta no domingo, na quarta, da imagem da Caixa nos gramados, como sentimos falta, na época, da Lubrax nas camisas do Flamengo. Hoje é Caixa. Precisamos ver como ampliar os negócios com os clubes para dar mais eficiência a esses negócios: cartão de crédito dos torcedores, um jogador desses ganha R$ 500 mil, tem um monte de dependentes, tem de olhar a visão sistêmica do negócio.

O sr. assume num momento de desaceleração do crédito. Esse movimento vai continuar?

A participação da Caixa no crédito comercial era pequena. Houve um trabalho planejado da diretoria de ter uma participação maior no mercado. Isso trazia junto uma aceleração das concessões. Crescemos na participação geral do crédito de 6%, em 2008, para 21%, agora. Mas não tem como crescer 30%, 40% todo ano. Chegamos num patamar que a Caixa elencou e, gradativamente, começamos a curva de declínio.

Mas o uso da Caixa como locomotiva do crédito foi uma decisão do governo dentro das medidas anticíclicas da crise de 2008/2009.

Não. Primeiro tivemos a decisão de que teríamos de ter participação maior no mercado antes mesmo da crise. Juntou com a oportunidade de ocupar espaço, com a desaceleração dos bancos privados na concessão do crédito. Mas foi feito dentro de um planejamento de crescimento e, depois, desaceleração. Os ativos do banco estavam na maior parte na tesouraria e a perspectiva era de um cenário de redução de juros. Com a desaceleração de concorrentes, ocupamos o espaço. Agora, nossa curva de desaceleração está coincidindo com a do mercado. Mas vamos manter a participação no mercado, continuando sendo o segundo maior na concessão de crédito.

Qual a previsão de crescimento do crédito neste ano?

A estimativa do banco está entre 7% e 10%. A projeção inicial era 8%, mas a avaliação é que vai ficar em 7,5%. Não depende apenas no banco. É preciso trabalhar a questão da inadimplência, da qualidade do crédito, da diversificação da carteira olhando as oportunidades. É bem provável que a economia, no último trimestre, vai ter tendência de crescimento. Estamos nos preparando para entrar nesta participação, principalmente em infraestrutura, que vai, neste primeiro momento, será o ponto que puxará o crescimento.

No processo de expansão, quais foram os principais acertos e erros?

A Caixa entrou em linhas que não tinha expertise, como crédito rural e financiamentos a grandes empresas. Não é considerar que foi um grande erro, foi um aprendizado. Continuamos forte na habitação, no consignado e crescemos muito na infraestrutura. Estamos focados nesse tripé. Quando se abre mais uma frente, é um aprendizado. A Caixa vai continuar sendo um grande banco de governo, um grande banco da habitação, de prestação de serviços, importante para o governo federal, para Estados e municípios. Não vamos deixar jamais esse viés.


Fonte: O Estado de S.Paulo