quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

REFORMA TRABALHISTA: O QUE ESPERAR?
Quando o contracheque chegou no final de outubro/2017, Jefferson da Silva Garcia, 33, tomou um susto: seus rendimentos haviam caído pela metade. Ele trabalha como locutor da rede de supermercados Mundial, que tem 18 lojas no Rio de Janeiro e emprega mais de 9.000 funcionários. A redução salarial atingiu também os outros empregados e levou a uma paralisação momentânea no começo de novembro. Trabalhadores, sindicato e a empresa abriram negociação, e os funcionários ameaçam entrar em greve. “Em média recebo R$ 2.200,00 mas no fim do mês só veio R$ 1.100,00. Trabalho no Mundial há 15 anos, tenho uma vida aqui. Só quero meus direitos”, declarou Garcia.
A rede cortou o pagamento do adicional de 100% sobre as horas trabalhadas aos domingos e reduziu o pagamento das horas extras a que os funcionários tinham direito garantido em contrato. O empregador se baseou num decreto de agosto/2017 assinado pelo presidente Temer que passou a considerar os supermercados como uma atividade essencial da economia, dando-lhes a possibilidade de abrir normalmente em horários especiais, aos domingos e feriados sem a necessidade de negociações trabalhistas ou de se submeter a legislações locais.
Depois de uma negociação com o sindicato, a rede de supermercados ofereceu um vale compras no valor de R$ 30,00 que só pode ser usado na própria rede em substituição aos adicionais que significavam 50% dos ganhos dos funcionários no final do mês.
O decreto de Temer que proporciona confortavelmente aos patrões a redução da folha de pagamento, sequer se refere aos salários dos trabalhadores.
A mobilização dos funcionários cresceu e, sob pressão, a empresa decidiu voltar a pagar o adicional para quem trabalha aos domingos mas não nos feriados. Além disso, reintegrou os trabalhadores demitidos durante os protestos.
Esse exemplo, ocorrido a algumas semanas, retrata a dura realidade a ser vivenciada pelos trabalhadores brasileiros daqui em diante. Não podemos permitir qualquer perda de direito. Só a nossa mobilização e união garantirá nossas conquistas. É tempo de nos prepararmos para enfrentar uma dura batalha como talvez nunca tenhamos enfrentado. Nossa dignidade não pode perecer ante essa ofensiva desumana de um governo ilegítimo. Só a luta nos redime.

DESAFIOS DO NOVO CENÁRIO
Este momento da implantação da Reforma Trabalhista, com as novas alterações incluídas na CLT pela Lei 13.467/17, vigente desde o dia 11 de novembro passado, é próprio para ampliar a reflexão do mundo sindical sobre as perspectiva de fortalecimento do sindicalismo no Brasil.
Muito se tem falado sobre as mudanças introduzidas na forma abrupta no mundo do trabalho, com muita e apropriada indignação de sindicalistas, advogados e magistrados – mas muito pouco se tem ouvido dos próprios trabalhadores, os grande afetados.
A baixa mobilização dos trabalhadores, é sem dúvida  uma das razões que permitiu a célere aprovação da Reforma Trabalhista, e chama atenção sua quase indiferença aos chamados das lideranças sindicais para reagir à aprovação da Lei e, agora, à sua implementação.
Armou-se um cenário de guerra judicial contra a implantação da Reforma Trabalhista, especialmente com os 125 enunciados da ANAMATRA que, em grande parte, alegam inconstitucionalidades na Lei que somente poderão ser definidas pelo STF, um processo geralmente alongado e pontual.
Enquanto isso as empresas se apressam em definir as medidas da Reforma de seu interesse e trabalham para sua adoção de forma direta ou mesmo para inclusão de novas cláusulas em

acordos e convenções coletivas – inclusive nos acordos individuais previstos que prevalecem sobre acordos coletivos e convenções.
Os trabalhadores, ao que tudo indica, ainda não acordaram para o alcance das possibilidades de precarização introduzidas com a reforma da CLT, cabendo aos sindicatos, legítimos defensores dos direitos coletivos ou individuais das categorias, esclarecer esses trabalhadores, organizar sua mobilização e atuar em sua defesa.
É uma ação permanente que requer sindicatos fortes e representativos para conduzir negociações coletivas que não apenas travem os retrocessos mas ainda incluam avanços de cidadania, e que sejam civilizatórios com a organização do capital do século XXI.

OS SINDICATOS E A RESISTÊNCIA

As medidas aprovadas por Temer fazem parte de um pacote de inciativas que incluem privatizações e a reforma da previdência. Essa conduta segue a cartilha do Neoliberalismo que defende a política do “estado mínimo”, com participação inexistente nas áreas social, de saúde e de educação. Tudo, na ótica neoliberal, deve pertencer à iniciativa privada. O estado não pode ter nenhuma empresa estatal e o mercado deve controlar toda a economia.
Essa tentativa de desmonte do estado teve inicio no governo Collor, cresceu no governo FHC com as privatizações e agora volta à tona com o ilegítimo Temer. Vários países, principalmente no continente europeu, já tentaram implementar a política neoliberal desde a década de oitenta. Porém, não há qualquer exemplo de sucesso nessas tentativas. Todos tiveram que voltar atrás por motivos óbvios: o neoliberalismo tira dos trabalhadores e doa aos grandes empresários (é aqui que entram os bancos). O resultado é uma violenta precarização do trabalho, geração descontrolada de subempregos com queda acentuada do poder de compra dos trabalhadores, além de uma quebradeira generalizada de pequenas e médias empresas com um descomunal aumento na concentração de renda. Gera uma recessão que beira ao caos.
Porque então, apesar de todos saberem que o neoliberalismo é uma proposta falida, tentam sua implantação no Brasil? Só mesmo um governo que atende aos interesses do capital internacional e dos grandes empresários (bancos), únicos que lucram muito com o neoliberalismo, é capaz de relegar os trabalhadores a último plano, penalizando-os mesmo que por um tempo.
Nós não vamos pagar essa conta!

Essa ofensiva neoliberal ataca os trabalhadores brasileiros e suas organizações. Junto com as medidas que usurpam direitos, há também uma tentativa de enfraquecer os sindicatos. Querem, além de sugar o poder econômico dos trabalhadores fazendo-o migrar para os grandes, tirar todo o seu poder de reação e resistência.
O momento é de união, fortalecer ainda mais os sindicatos e nossa organização para que, unidos, possamos por em prática toda a nossa disposição de luta contra os predadores dos nossos direitos.
A categoria dos bancários ao longo de décadas de lutas, conseguiu unificar em nível nacional nossas campanhas salariais. Isso, aliado a um sindicalismo atuante, nos deu a possibilidade de conquistarmos o melhor acordo coletivo entre as categorias do território nacional. Sem falar nas conquistas econômicas, com participação nos lucros e ganhos reais que não permitem a corrosão do nosso poder aquisitivo pela inflação. Não vamos abrir mão de nada disso. Vamos sim nos fortalecer ainda mais.


 Sindicalize!